Os Bons Resultados da Psicologia Esportiva
Não foi só a vitória dos jogadores das equipes masculina e feminina do Brasil no Campeonato Sul-americano – Copa Los Andes no final do ano passado que marcou a história do esporte no país, mas a participação dos capitães, delegados, presidente e demais integrantes da equipe técnica, como o psicólogo esportivo Esmerino Rodrigues Júnior, que conquistou seu espaço.
O apoio – e reconhecimento – foram grandes. Tanto que, este ano, a Confederação Brasileira contratou Esmerino para acompanhar alguns dos principais torneios da entidade, auxiliando jogadores, ministrando palestras e aconselhando os atletas, desde os iniciantes até os mais experientes.
No Amador do Brasil – 3ª Taça Banco Alfa, orientou a campeã Maria Priscila Iida (e isso me ajudou bastante, garantiu a jogadora), Mariana De Biase, Fernando Mechereffe, Fernando Gullo, e todos tiveram bom desempenho. Dois jogadores profissionais, o carioca Philippe Gasnier e o gaúcho Rafael Barcellos, têm trabalhado com o psicólogo e já colhem frutos de seu trabalho.
GASNIER, RECORDE NO ITANHANGÁ.
“No dia 21 de junho de 2003, o Itanhangá Golf Club e o golfe brasileiro presenciaram um daqueles dias mágicos. Philippe Gasnier jogou em três dias de competição 18 abaixo do par (67-65-66), para um campo de par 72. Recorde do clube, do Aberto do Rio de Janeiro, do Diners Tour e recorde brasileiro (na história do golfe brasileiro, nunca um golfista havia feito este score em três dias de competição)”, lembra Esmerino. “Começamos a trabalhar juntos em fevereiro deste ano, quando ele decidiu se profissionalizar-se. Nas duas semanas que antecederam o Aberto do Rio de Janeiro, fizemos vários encontros, onde planejamos o treinamento: técnico, tático, físico e psicológico. Alguns desafios surgiram, e nós tínhamos que buscar soluções. O primeiro deles: no dia 21 de junho seria o dia do aniversário da mãe de Philippe, já falecida, por isso ele queria ganhar o torneio como forma de presenteá-la. O segundo: jogar no Itanhangá, onde pratica golfe desde os 10 anos. Ganhar o primeiro título como profissional com apenas quatro meses de carreira, no seu clube, seria um grande presente. O terceiro desafio: vencer o buraco 18 com um birdie. Foi neste buraco que em 2000 viveu a derrota mais sofrida de sua carreira; ao chegar no tee do 18, no Amador do Brasil, tinha três tacadas à frente de Ivo Leão. Jogou duas bolas na água… e perdeu no playoff”.
“Não é objetivo da psicologia eliminar o sentimento saudade, por isso, conversamos muito sobre este fenômeno psíquico e tentamos transformar em agente motivador a perda de uma pessoa amada. Situações passadas devem ser vivenciadas com trampolim e nunca como sofá…, ensina o psicólogo. “Em relação à pressão de jogar em casa e os elogios cotidianos que poderiam tirar-lhe do foco principal, a estratégia foi a mesma; ouvir palavras de incentivo e não se deixar impressionar por elas. Usá-las como um fator externo motivacional. Finalmente, fomos até o tee do 18. Eu quis saber qual o taco que lhe dava mais confiança, e ele me disse: – É o driver! Então, é com ele que você deve bater todos os dias, respondi. Treinou com o driver, criou rotina e confiança. Depois visualizou um ponto no meio do fairway e bateu nesta direção… o cérebro responde com mais clareza e envia a mensagem mais precisa para musculatura, quando o ponto de referência é menor”.
“Cada passo exercido por nós, era feito com questionamentos, carinho e dedicação. A disciplina de Philippe foi fundamental para a concretização das tarefas que havíamos estabelecido. No último encontro, conversamos sobre o papel fisiológico da Adrenalina e da Serotonina… um enrijece a musculatura e o outro relaxa; assim sendo, jogar feliz, com alegria…”você está fazendo o que mais gosta, jogar golfe, não é?” Depois expliquei algumas técnicas de relaxamento, que o ajudaria na diminuição da ansiedade, fenômeno psíquico comum no período pré-competição e outras dicas psicológicas para serem utilizadas durante a competição. E por fim, jogar para vencer, não valorizar os erros, sempre visualizar a melhor tacada…”Atitude mental positiva, sempre! Confiança, sempre!”.
“Nos três dias de competição, alguns fatos marcantes podem ser relembrados:
a) a tranqüilidade com que ele jogou os 54 buracos foi invejável. Um fato muito interessante aconteceu no terceiro dia: após embocar um putt no buraco 7, foi em direção ao tee do 8, passou por mim e falou: – É Esmerino, preciso de adrenalina, estou muito calmo! Respondi-lhe: – Você não precisa de adrenalina…vai e continua jogando calmo! E foi isso que ele fez.
b) nos três dias ao chegar ao tee do 18, pegou o driver e bateu no meio do fairway, como havia treinado, como havia visualizado. No primeiro e segundo dia fez par; no último dia foi a sua consagração, drive no fairway, dividindo o campo ao meio; após a tacada, ainda com o driver na mão, a emoção em forma de felicidade e alívio tomou conta do seu rosto jovem… estava “exorcizado” mais um fantasma. Voltou a si, respirou fundo e foi para a próxima tacada… bola perfeita deixando-a próxima da bandeira… depois um putt sereno… embocou como desejava… fazendo um birdie no buraco 18.”
“Abraçado ao pai, ainda no green, chorou… Naquele momento acabava de registrar uma vitória histórica para o golfe brasileiro. E tinha todos os sonhos realizados num só dia.”
RAFAEL BARCELLOS, A VITÓRIA DA PERSISTÊNCIA.
“No dia 07 de abril de 2003, Rafael Barcellos me procurou para começarmos o trabalho de preparação psicológica aplicada ao golfe. Ele se profissionalizou em 1992, e diversas vezes chegou ao último dia como líder e/ou como possível vencedor, mas o título escapava das mãos, sem nenhuma explicação. Foram mais de 10 anos sem conseguir vencer uma competição profissional e 15 vice-campeonatos. Evitei relembrar esta seqüência. Fomos organizando e planejando o treinamento (técnico, tático, físico e psicológico) e aproveitei para introduzir na nossa metodologia cotidiana o treinamento da atitude mental positiva. Rafael tem 32 anos e usei a sua experiência com outros esportes, pois praticou vôlei e handebol, para incentivá-lo na busca de novas vitórias, porque o atleta carrega as emoções vitoriosas no seu corpo-mente.”
“A cada competição ou treinamento que vivenciava, pegávamos os pontos positivos e negativos e fazíamos um estudo minucioso para tentar minimizar os erros e maximizar os acertos. A sua disciplina e organização foram sem dúvida os grandes alicerces da memorável vitória conseguida por ele. No nosso último encontro, antes do Campeonato Aberto do Estado de São Paulo – Diners Club Golf Tour, no PL Golf Club, ele me confidenciou que havia jogado nos treinos da semana, respectivamente, 8, 9, 3 e 5 abaixo, e depois sentiu dores nas costas o que o impossibilitou de bater bola durante alguns dias. Resolvi então, falar-lhe sobre confiança… que ele havia jogado muito bem e que deveria esquecer as dores nas costas. Indiquei um livro chamado: O Tao do Esporte, e li algumas partes que falava sobre ferimentos e a cura de doenças através do riso. Estava pronto o caminho da vitória…”
“Na sexta-feira jogou 73 (1 acima), terminando em 12o lugar. No sábado jogou 68 (4 abaixo), fazendo uma volta maravilhosa de 30 (6 abaixo), encerrando o dia como líder, empatado com outros quatro golfistas. No domingo, antes da final, fui conversar com ele. Disse-lhe que acreditasse no seu potencial, relembrei que havia jogado 4 abaixo no dia anterior e que ele estava pronto para vencer… ele balançou a cabeça e me respondeu que estava tranqüilo e confiante…”, continua Esmerino. “Desejei-lhe boa sorte, nos abraçamos, pois o carinho e dedicação que ele demonstrou durante todos os momentos transformaram o nosso trabalho num elo muito forte”.
“Ao final do dia, buraco 18, Rafael Barcellos deixa a bola no green, dá dois putts e vence pela primeira vez uma competição profissional. Esta vitória, deixa como ensinamento que persistência, competência, disciplina e confiança podem fazer de um atleta, mesmo com histórias tão adversas, um verdadeiro campeão”.
