Confederação Brasileira de Golfe

Que tal treinar o cérebro?

26 de abril de 2010

Caros jogadores, nesse novo artigo trago para vocês conceitos modernos e muito curiosos. Como podemos aproveitar melhor nossos treinos? Será que conseguimos abolir os shanks e slices treinando o nosso cérebro?
Quando o indivíduo começa a praticar esportes como o golfe ou tênis em sua infância ou adolescência, pode desenvolver os níveis de excelência desportiva semelhantes aos obtidos por Tiger Woods e Roger Federer. Em parte, a probabilidade de alcançar a excelência desportiva depende de aprendizagem e habilidades motoras específicas na infância.

A capacidade de aprender movimentos especializados é chamada de “memória muscular”. Fisiologicamente, memória muscular é um termo impreciso e enganoso, e seria melhor entendida como “memória motora”, referindo-se assim ao córtex motor e “respectivas regiões do cérebro que armazenam as recordações do movimento”. Simplificando, não é o músculo que lembra o movimento, e sim o cérebro.

A Boa Prática leva à perfeição

Treinadores utilizam freqüentemente o ditado “a prática leva à perfeição”, mas isso é verdade? É provavelmente mais correto afirmar que a prática “perfeita” leva à perfeição. Se os esportes que requerem altos níveis de habilidades motoras são praticados de forma casual, que solicitam ao atleta ou ao jogador a praticar exercícios e técnica pobres, esses movimentos serão gravadas em mapas cerebrais. Quanto mais pobre a técnica é praticada mais o cérebro aprende a realizar esta técnica pobre e mais o mapa do cérebro para esta técnica é reforçada. 

Para as pessoas frustradas ou com algumas dificuldades no esporte isso levanta a questão: posso realmente mudar a minha má técnica para uma boa técnica? A resposta para isso é absolutamente sim! Em termos de habilidades motoras e da técnica desportiva, potencialmente não há nada que não possa ser mudado, mas não é fácil.

Fisiologicamente necessitamos de um processo conhecido como potenciação de longa duração (LTP) (5,6). O LTP permite que o cérebro e o sistema nervoso aprendam a “formar memórias”. LTP é perceptível para quem já tentou aprender movimentos motores qualificados, seja executando uma série de ginástica, acertando uma bola de golfe ou uma bola de futebol.

As primeiras tentativas de realizar essas atividades são geralmente desajeitadas e mal sucedidas, mas com o treinamento e boa técnica as atividades vão tornando-se mais fáceis. A prática continuada estimulará o LTP melhorando a eficiência dos circuitos nervosos que compõem os “mapas de movimento”, exigindo menos esforço e concentração do indivíduo para iniciar e realizar a tarefa. Movimentos tornam-se mais fáceis, mais suaves e talvez até mesmo perfeitos ao longo do tempo (5,6). Pergunte a Tiger Woods o que ele está pensando quando ele joga uma tacada de golfe. Sua resposta será “nada”. Os mapas do cérebro responsáveis pela sua técnica de golfe tornaram-se uma parte muito importante de que ele já não precisa se concentrar em qualquer momento do seu swing, assim como o slogan publicitário do seu principal patrocinador, ele pode “apenas fazê-lo”.

Prática, persistência, paciência

Há uma série de ressalvas importantes quando se considera a aquisição de competências e formação de novos mapas. Primeiro e mais importante que exige a regra do três Ps, ou seja, prática, persistência e paciência. Existe um mito que todos os homens e mulheres da elite dos esportes são apenas naturalmente dotados”. Somos todos diferentes geneticamente; por isso, é verdade que algumas pessoas vão ser geneticamente pré-dispostos para traços úteis na execução de determinados esportes. Por exemplo, alguns corredores de distância africanos têm uma maior percentagem de fibras de contração lenta muscular em comparação com outros indivíduos, aumentando assim as suas capacidades de resistência.

No entanto, não são só nossos genes que fazem quem somos. Os genes também são determinados pela forma como nós ou os outros os estimulam (7). Portanto o treinador experiente, particularmente para esportes que exigem elevados níveis de aquisição de habilidades motoras, é essencial para que a excelência seja alcançada.
Coaching, DVDs de instrução, etc, podem ser úteis se houver algum meio de analisar a sua nova técnica. A análise do vídeo pode ser útil, porque o que nós pensamos ou sentimos que estamos fazendo muitas vezes não é aquilo que realmente estamos fazendo. Esta análise não tem que ser “high-tech”. Poderia simplesmente ser você ou alguém filmando sua performance com uma filmadora.

O cérebro e o sistema nervoso exigem períodos de consolidação para reforçar a aprendizagem motora e a aquisição das competências. Portanto, após períodos de treinamento motor a consolidação desses novos movimentos e habilidades ocorre. No entanto, é muito importante neste momento de aprendizagem motora não desistir. Persistência com os treinamentos neste momento atinge a consolidação necessária para a aquisição de habilidades e estimula a próxima explosão do motor de aprendizagem. Devido à dificuldade pode haver uma vontade de desistir, parar de praticar ou o seu treinador abandonar um treino vital devido à frustração com o que pode parecer ser um retardo do que já havia sido conquistado ou falta de progresso.

“Contudo, a prática persistente da nova habilidade desejada reforça o novo mapa de uma forma em que se torna parte do seu cotidiano de trabalho de memória”. O antigo modelo não vai embora, ele só fica mais fraco devido à menor utilização e ativação. Este processo de “extinção” enfraquece a conectividade e a força dos circuitos nervosos do cérebro para o mapa antigo, tornando-os menos propensos a ação. Entretanto, se voltarmos a praticar a velha técnica indesejada, isso mudará novamente o mapa do cérebro reforçando o modelo antigo.

 

Referências

1. Doidge (2007) do cérebro que se transforma, da Penguin Group, de Nova York
2. Ratey (2008), Spark – A nova e revolucionária ciência do exercício e do cérebro, Little, Brown and Company, New York
3. Blakeslee (2007), o corpo tem uma mente própria, o Grupo Random House Publishing, New York
4. Frith (2007) Making Up The Mind – Como o cérebro cria nosso mundo mental, Blackwell Publishing, Massachusetts
5. Sweatt (2009) Potencialização de Longo Prazo: Um candidato mecanismo celular para o armazenamento de informações no sistema nervoso central, em Byrne (ed) Concise Aprendizagem e Memória, Elsevier, Amsterdam
6. LeDoux (2002) Synaptic Self – Como o nosso cérebro se quem nós somos, Penguin Group, de Nova York
7. q (2003) Nature Via Nurture – Genes, experiência e que nos torna humanos, Harper Collins, Londres

 

*Eliane Balestrin é fisioterapeuta especializada em fisioterapia esportiva na área de reabilitação do músculo esquelético, formada no IPA de Porto Alegre e chefe do serviço de fisioterapia ambulatorial do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre. Contato: eliane.balestrin@terra.com.br  

O ponto de vista dos colunistas não expressa necessariamente a opinião da CBG.

 

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