Confederação Brasileira de Golfe

Driver para quê?

15 de janeiro de 2008

 por Marco Frenette

Jogadores de handicap alto deveriam medir as distâncias que batem com madeiras e híbridos, e depois avaliarem se realmente precisam sacar o driver da bolsa

O psicólogo esportivo Bob Rotella diz que o driver escancara as deficiências técnicas do golfista médio e o arrasa duplamente, acabando com sua auto-estima e com seu escore. Harvey Penick, o papa dos instrutores, também odiava ver um pé-duro treinando com o driver: “A cada swing, o negócio fica mais feio, e o jogador cada vez mais desmoralizado”. E Tiger Woods, quando sente que não é o dia para uma longa jornada fairway adentro, abandona o driver e usa a madeira 3 – no que é seguido por profissionais mundo afora, quando estão realmente concentrados em vencer e sabem que devem usar o taco mais difícil da bolsa com bastante parcimônia.

No entanto, no mundo dos jogadores de fim de semana ocorre exatamente o contrário: de pares 4 curtos adiante é sempre o driver o taco elegido para o tiro de saída. Porém, mais que a propalada deficiência técnica do golfista pé-duro, o que deveria convencê-lo a usar menos – ou quase nunca – o driver é o fato de ele ainda não ganhar distância com esse taco cabeçudo. Basta ir num range onde a bola possa voar livremente para constatar que a maioria dos jogadores de handicap alto atinge distâncias irrisórias com seus drivers. Quando batem muito bem (aquela tacada “perfeita” e única do dia) a bola voa, em média, 230 jardas. Na maioria das vezes, o vôo se mantém nas distâncias de 190 a 200 jardas (por mais que a maioria insista na ilusão de que sua média de vôo é de 250 ou 260 jardas). Esses jogadores se dariam muito melhor, e bateriam até mais longe, se sacassem uma madeira 5 da bolsa, com um bom loft de de 17 ou 19 graus.

A prova dessa verdade está diariamente nos campos, e muitas vezes envolve uma situação um tanto curiosa. Há quatro jogadores com handicaps entre 25 e 36 no tee. Três batem com drivers e vêem suas bolas, após vôos um tanto tresloucados, pousarem no fairway. O quarto jogador pega uma madeira 3 ou 5 ou até um híbrido de 17 graus e bate sua bola, que vai pousar bem próxima das outras. Daí, todos se espantam, e exclamam: “Nossa, como ele bate longe!”.

Ora, na maioria das vezes, não é que o tal “bate longe”. Ele simplesmente bate as distâncias médias correspondentes aos tacos que ele consegue manejar sem desperdiçar potência. Porém, em vez de admitirem que seus drivers, em suas mãos, são ferramentas inútéis; e que deveriam fazer como o colega e bater tiros mais seguros e retos com tacos mais fáceis até ganharem swings de verdade, os três preferem colocar as coisas de ponta cabeça e afirmarem que o outro é que “bate longe”. É a manjadíssima manobra psicológica do autoengano aplicada ao golfe.

Mas se não há motivo racional para o golfista de fim de semana usar o driver, porque ele usa tanto e tão apaixonadamente? Por um motivo muito simples e demasiadamente humano: ele é semelhante a uma criança orgulhosa que quer brincar com o brinquedo mais vistoso e caro. É questão de uma inocente soberba e de uma auto-afirmação pueril traduzida em movimentos espalhafatosos que simulam potência, habilidade e vigor físico. Tornado criança, o golfista é seduzido pelo prazer de ter nas mãos o taco mais poderoso da bolsa, e não vê a hora de ouvir o som explosivo do titânio em contato com a bola. Pouco importa se a bola irá para fora de campo ou se a distância atingida não for superior a da sua madeira. O que vale é a diversão, o prazer de ouvir o zumbido do driver tal qual espada em batalha campal. E se algum jogador scratch mais sensível estiver por perto, que olhe para o outro lado para não se traumatizar com tamanha barbaridade.

O colunista é escritor, golfista e editor da revista Golf Life

Confederação afiliada

Comitê Olímpico do Brasil Internacional Golf Federation R&A Federacion Sudamericana de Golf Comitê Brasileiro de Clubes

Parceiros

Patrocinadores

Premiações

Mapa do Site