Confederação Brasileira de Golfe

A importância do campo-escola

12 de setembro de 2009

* por Ricardo Salinas

Indiscutivelmente, nos últimos dez anos o golfe brasileiro contou com significativo crescimento, considerando-se tanto o número de jogadores quanto de campos existentes. Entretanto, não obstante esse crescimento, ainda são muitos os desafios a serem vencidos por todas as instâncias que dele se ocupam, especialmente no tocante ao ensino do esporte e, conseqüentemente, na criação de novos jogadores.

Dentre esses desafios, consideramos premente a superação de algumas interpretações “míticas” que têm acompanhado o golfe brasileiro, em especial a de ser um esporte extremadamente difícil. É fato que o golfe, como outros esportes, reserva sua complexidade. Mas também é fato que as mesmas devem ser um de seus atrativos, mobilizando o interesse e determinando o empenho de seus praticantes. Neste sentido, consideramos o Campo-Escola, ou Executive-Course (como são denominados internacionalmente), uma importante estratégia para incentivar a adesão ao esporte na medida em que aumenta a agradabilidade de sua aprendizagem.

A exemplo do que já existe em muitos outros países, o Campo-Escola é um campo de tamanho reduzido, mas que dispõe de todas as características próprias aos campos de maiores extensões. Sua dimensão comporta até 18 buracos entre par 50 e 56, bem como greens, tees, e fairways com superfícies específicas e tecnicamente correspondentes. Todas essas situações de jogo são delimitadas pelas estacas convencionais, ou seja, estacas brancas (O.B.), amarelas (azar frontal), vermelhas (azar lateral), azuis (área de preservação) etc. Da mesma forma que em outros tipos de campo, é ideal a existência de lagos e cursos de água, e em sendo artificiais, em concordância com o novo código florestal, Lei Federal 4.771/65,art. 2º.

Tom Doak, em seu livro Golf Course Arquitect (Arquitetura de Campos de Golfe), sugere que “para campos com área disponível é ideal a construção de campos par-3 para os jogadores que começam a praticar o esporte”. Assim sendo, diferentemente do que se possa supor, o respectivo campo tem como público-alvo não apenas as crianças, mas todos os interessados, independentemente de idade ou condições físicas. Suas medidas reduzidas desempenham ainda um papel fundamental na motivação para o jogo, pois o praticante, futuro golfista, desde suas tacadas iniciais se sente mais seguro para atingir o objetivo.

Conforme disposto na literatura sobre o golfe, a longa distância do alvo (green e bandeira) demanda inúmeras tacadas por parte do iniciante, o que pode ser fator gerador de estresse e culminar em desistência. Da mesma forma, a morosidade que é natural e própria no jogo do aprendiz também pode acarretar desmotivação, tornando-se fator comprometedor na continuidade da prática, pois nem sempre se tem a disponibilidade de tempo requerido. Os 9 ou 18 buracos distribuídos num campo de menos jardas possibilitam maior agilidade ao jogo, tornando-o também mais dinâmico e pragmático.

Tom Doak, no livro acima referido, destaca também o fato de que brevemente (a exemplo do que já ocorreu nos clubes Augusta National, Winged Foot-West, Marion, Baltusrol e outros), os clubes com campos regulares (Championship-Length Course) passarão a oferecer um segundo campo. Para este autor, dois campos não concorrem entre si, mas se complementam, pois cumprem funções específicas e atendem as demandas de momentos distintos de jogo. Para Doak a coexistência de Championship-Length Course e Short-Course representam “uma boa combinação”.

Outro fator que opera favoravelmente para a aprendizagem do golfe em Campo-Escola refere-se ao ensino das regras e especificidades técnicas. Neste tipo de campo, por suas dimensões menores, o instrutor pode acompanhar o desempenho de seus alunos em situações de treino ou outras, ampliando para além das aulas as orientações e correções que se fizerem necessárias. As instruções, portanto, passam a ser diretas, em aulas ou clinicas, e indiretas, por acompanhamento de treinos. Esta segunda condição permite ao instrutor dispensar atenção para um número ampliado de pessoas, tomando as observações indiretas de treino (situações reais de jogo) como conteúdos para as orientações individuais em aula, minimizando a artificialidade das mesmas.

Sabidamente, o jogador de handicap baixo prioriza o aprimoramento técnico do swing e do jogo. O desafio do jogador scratch é ganhar do campo e, nessas condições, o landscape (jardinagem) e a beleza do campo podem se tornar secundárias. Os espaços mais usuais para tal aprimoramento têm sido os driving ranges, que apesar de sua importância, mantêm o jogador em um único lugar e sem um objetivo de finalização a cumprir, a não ser o domínio e automatização dos movimentos requeridos pelo swing, além de privá-lo de uma das maiores qualidades do golfe: as caminhadas em contato direto com a natureza, usufruindo do belo visual próprio de um campo.

Por outro lado, o jogador de handicap alto não procura necessariamente a técnica. Ele é atraído também pelo lugar: um Club-House aconchegante, a beleza e qualidade do landscaping e um bom traçado do campo; Tudo isso acompanhado de boas amizades. Estes fatores fortalecem o prazer pelo esporte, estimulando a assiduidade e adesão do jogador ao campo.

Assim sendo, considerando que o campo é para o golfe o mesmo que a piscina é para a natação, acreditamos que a relação entre campo e os diferentes momentos de desenvolvimento do jogador e expectativas que têm quanto ao esporte devem ser objetos de atenção. Acreditamos que o Campo-Escola tem muito a contribuir para a disseminação do golfe pois, além das qualidades sumariamente apresentadas acima, representa também redução de custos tanto para sua construção quanto para a manutenção.

Conforme disposto por Phillip Crafman, em seu artigo Golf Course for small Comunities (Campos de Golfe para pequenas Comunidades), “9 greens, 6 greens e até mesmo 3 greens podem apresentar-se como interessantes opções para minimizar os custos de manutenção e construção”, bastando assegurar 18 saídas e rotas proporcionais diferentes, por exemplo: 6 buracos, 3 voltas com 6 rotas diferentes em 18 saídas. Neste sentido, torna-se um investimento mais viável para condomínios, resorts, prefeituras, universidades, etc.

Da mesma forma, promove significativa economia na aquisição dos equipamentos necessários à prática inicial do esporte. Por suas características especiais, são várias as opções para a utilização dos tacos, isto é, podem ser utilizados apenas os tacos pares ou apenas os ímpares, da mesma forma que um jogo completo, mas que passa a ser uma aquisição demandada pela evolução qualitativa do jogo ou pelo desejo do jogador, e não uma condição requerida pelo campo desde os momentos iniciais de aprendizagem.

Ao longo dos últimos dez anos, temos nos dedicado aos estudos sobre a construção de campos e ao ensino do golfe, dispensando especial atenção às crianças e iniciantes. Os dados resultantes desta experiência reiteram o disposto na literatura européia e norte-americana: o fortalecimento do golfe se faz acompanhado de ações que o tornem mais factíveis e viáveis tanto para os seus admiradores, jogadores em potencial, quanto para aqueles que podem tomá-lo como um bom investimento nas áreas de turismo e lazer. Assim sendo, o Campo-Escola ou Executive-Course ainda é, no Brasil, uma estratégia a ser melhor explorada, dado para o qual esperamos contribuir com este pequeno artigo.

* Ricardo Salinas é profissional de golfe do Damha Golf Club, de São Carlos (SP) e coach da Escola de Golfe Anwar Damha

 

 

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